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O MORCEGUISMOS é um espaço inteiramente dedicado aos morcegos e pretende ser um veículo de divulgação e sensibilização. Neste espaço cabe a divulgação de projectos em curso ou concluídos, notícias, e actividades diversas.

Para além disso pretende-se que contribua para uma aproximação do público a este grupo faunístico, e que este público tome parte no aumento do conhecimento sobre morcegos em Portugal, nomeadamente através da informação sobre abrigos de que tenham conhecimento.

No futuro pretende-se ainda criar uma linha de apoio a qualquer assunto relacionado com morcegos, como seja o socorro de morcegos encontrados feridos ou a perturbação de abrigos, entre outros.

Espera-se desta forma dar um contributo importante para a conservação das espécies de morcegos portuguesas.

10 de março de 2010

Arquitectura urbana, verdadeira armadilha para algumas espécies de morcegos

Post original no blog da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza


São várias as vezes que os Vigilantes da Natureza do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros afectos ao programa “Coabitação e exclusão de morcegos” (ver aqui) são chamados a intervir perante a solicitação de particulares.

Hoje foi mais um dia em que foram contactados para recolher um morcego que já há 2 dias teimava em não sair de uma varanda de um apartamento em Santarém e cuja residente tinha pavor do animal, embora tivesse consciência de se tratar de espécie protegida e querer ajudar com a melhor boa vontade. Dizia-nos que o animal não conseguia voar e que deveria estar ferido ou debilitado.

Quando nos deslocamos ao local, deparámos com uma varanda de 1m de largura (com parede em volta com mais de 1m de altura) forrada a mosaico vidrado e com um aparelho de ar condicionado colocado junto a um dos extremos. Entre o dito aparelho e a parede (sem qualquer aderência), existia uma fresta de cerca de 2 cm.

Tratava-se de um morcego-rabudo (Tadarida teniotis), uma das espécies de morcegos maiores da Europa, que decerto achou confortável o abrigo proporcionado pelo espaço ente o dito aparelho de ar condicionado e a parede. O grande problema que encontrou foi quando pretendeu sair. Sem aderência para conseguir subir em qualquer parede, sem aderência e espaço suficiente no chão da dita varanda, bem como a elevação e estanquicidade das paredes, tentava em vão levantar voo sem qualquer sucesso, tal como uma pessoa a tentar subir um pau de sebo extremamente engordurado.

De facto, ao nos depararmos com a situação, percebemos que alguns detalhes da arquitectura urbana são de facto autênticas armadilhas para algumas espécies de morcegos. Entram, mas dificilmente conseguem sair.


O Morcego-rabudo (Tadarida teniotis) é uma das espécies de quirópteros menos conhecidas em Portugal, não existindo até à data informação adequada para avaliar o risco de extinção, nomeadamente quanto à redução do tamanho da população e à tendência de declínio. Ver estatuto da espécie segundo o Livro Vermelho do Vertebrados de Portugal.
Esta espécie encontra-se no Anexo BIV da Directiva Habitat, sendo de interesse comunitário, cuja conservação exige protecção rigorosa.




O exemplar, após observação, não mostrando qualquer traumatismo nem sintomas de debilidade, foi libertado ao anoitecer com sucesso.

Nota: Todos os Vigilantes da Natureza que procedem à manipulação de morcegos, têm vacinação anti-rábica em dia. Não é de todo aconselhável manusear um morcego de mãos nuas por quem não está habilitado nem vacinado.

Texto e fotos: Francisco Barros

2 comentários:

SM disse...

Não devia o dito vigilante (alguém que supostamente tem formação na área!) usar luvas para manusear o morcego?

Francisco Barros disse...

Boa Noite,

Caro(a) SM, em 1º lugar não sou vigilante, mas sim Vigilante da Natureza (vigilantes são agentes de segurança privada).

Em 2º lugar, tem toda a razão, deveria ter usado luvas para manusear o morcego (quem diz morcegos, diz grande parte dos restantes mamíferos, várias espécies de répteis, várias espécies de aves, etc.), mas nem sempre isso acontece devido a situações imprevistas.

Neste caso concreto, não estava com a viatura habitual e só me dei conta que não tinha luvas quando já estava no local. A minha prioridade imediata foi a de resolver um problema (onde poderia incluir um animal ferido) e não a de seguir o protocolo.

É um procedimento exemplar? Não, não é! Por isso fiz questão de colocar a nota de rodapé que se vê no final deste pequeno artigo (onde se deduz que não se deve manusear morcegos de mãos nuas).

De qualquer modo, não foi a 1ª vez que manuseei um morcego sem luvas e provavelmente não será a última, desde que se justifique.
Não vou deixar de resolver situações deste tipo (seja com que animal silvestre for) se por qualquer motivo não tiver luvas à mão.

Cumprimentos,
Francisco Barros