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O MORCEGUISMOS é um espaço inteiramente dedicado aos morcegos e pretende ser um veículo de divulgação e sensibilização. Neste espaço cabe a divulgação de projectos em curso ou concluídos, notícias, e actividades diversas.

Para além disso pretende-se que contribua para uma aproximação do público a este grupo faunístico, e que este público tome parte no aumento do conhecimento sobre morcegos em Portugal, nomeadamente através da informação sobre abrigos de que tenham conhecimento.

No futuro pretende-se ainda criar uma linha de apoio a qualquer assunto relacionado com morcegos, como seja o socorro de morcegos encontrados feridos ou a perturbação de abrigos, entre outros.

Espera-se desta forma dar um contributo importante para a conservação das espécies de morcegos portuguesas.

29 de agosto de 2008

Barotrauma (II)

Depois de ter lido o artigo em causa aqui ficam algumas observações!

Um artigo recentemente publicado na Current Biology com o título Barotrauma is a significant cause of bat fatalities at wind turbines suscitou-me uma grande curiosidade.

Em traços gerais este artigo sugere que a mortalidade de morcegos em parques eólicos se deve, na maioria dos casos, ao fenómeno do Barotrauma e que o contacto directo com as pás dos aerogeradores só ocorreria em metade das mortes registadas. Esta última ideia leva-me à primeira questão/observação.

1) Como foi avaliada a existência de contacto directo com as pás? Foi inferida através do tipo de ferimentos evidenciados pelos cadáveres? Como se pode afirmar que nos casos em que a causa de morte foi o Barotrauma não houve anteriormente contacto com as pás?

Mais à frente pode ler-se que as maiores diferenças de pressão ocorrem nas pontas das pás, e que esta diferença de pressão aumenta com a velocidade na ponta da pá, sugerindo que na velocidade máxima esta diferença de pressão pode chegar aos 5-10kPa. Apesar de não se saber que diferença de pressão pode causar o tipo de hemorragias internas observadas, diferenças tão baixas como 4,4kPa são letais para o Rattus norvegicus (Ratazana-castanha).

2) Para que as pás atinjam a velocidade máxima, provocando as diferenças de pressão sugeridas, é necessário que a velocidade do vento seja bastante elevada. Acontece que a actividade de morcegos reduz significativamente com velocidades de vento altas, e a maior mortalidade de morcegos ocorre com velocidades baixas (Kunz et al., 2007), resultado que também tem vindo a ser confirmado por investigadores portugueses. Desta forma seria indispensável verificar as diferenças de pressão para velocidades de rotação das pás bastante inferiores, de forma a confirmar se estas continuam a ser suficientes para conduzir ao Barotrauma. Se para velocidades máximas as diferenças de pressão estão entre os 5 e os 10kPa, é de esperar que para velocidades significativamente inferiores esta diferença seja também menor. Ficaria abaixo dos 4,4kPa do R. norvegicus?

3) Num outro estudo publicado no início deste ano (Horn et al., 2008) os autores utilizaram câmaras de infravermelhos térmicos para observarem o comportamento dos morcegos. Algumas das imagens publicadas mostram morcegos a investigarem pás em movimento, a perseguirem as pontas das pás (os autores sugerem que neste caso poderão também ser apanhados nos vórtices), e a evitarem as pás em movimento, sem que se verifique a ocorrência de mortalidade. Um outro conjunto de vídeos mostra morcegos a serem atingidos pelas pás.

(retirado de: http://www.bu.edu/cecb/wind/video/)

Estudos realizados em Portugal também têm demonstrado que muitos morcegos não apresentam ferimentos externos, e a possibilidade das diferenças de pressão serem a causa de morte efectiva já foram também levantadas. À luz dos diferentes estudos surge então uma nova hipótese.

Poderá a mortalidade de morcegos em parques eólicos ser uma combinação de dois factores? Por um lado tudo indica que de facto as colisões ocorrem, por outro a existência de hemorragias internas parece apontar para a possibilidade da causa de morte ser a diferença de pressão. Poderão as colisões deixar os morcegos inconscientes e ao entrarem em queda livre ficarem sujeitos a uma diferença de pressão que resulte na sua morte por lesões internas? Para espécies de dimensão reduzida como as espécies de morcegos que têm sido encontradas mortas em parques eólicos, uma queda livre de uma altura entre 45-135m deverá ser suficiente para provocar lesões internas por diferenças de pressão.

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